Ame com todo o seu cérebro - Parte 1

Ame com todo o seu cérebro - Parte 1

Dra. Elza Magalhães Silva Esclarecedores 04/04/2017 (2)

Quando se trata de amor, todo mundo diz que o certo é seguir seu coração. Você ficaria surpreso em saber que na verdade o melhor é seguir seu cérebro? A ciência comprova que o amor é químico e acontece no cérebro.

Quando você encontra a “pessoa certa”, seu cérebro envia uma resposta química para seu corpo; é uma espécie de coquetel de neurotransmissores – substâncias relacionadas às sensações, como por exemplo a oxitocina, dopamina, vasopressina e opióides. Podemos chamá-los de cupidos químicos, os responsáveis por você se apaixonar.  Todas essas substâncias agem diretamente no sistema de recompensa do nosso cérebro, que é a parte do cérebro responsável por definir o que é “bom” e o que é “ruim” em todos os aspectos da nossa vida, inclusive em um relacionamento amoroso.

O que é o sistema de recompensa cerebral?

No nosso cérebro existem algumas áreas envolvidas no relacionamento amoroso: o núcleo accumbens, o núcleo pálido e a área tegmental. São nessas estruturas de nomes estranhos onde acontece a neurobiologia do amor e afeição. Estas áreas estão intimamente ligadas à produção dos neurotransmissores que participam do sistema de recompensa e do amadurecimento da relação amorosa (os cupidos químicos). Na fase inicial do namoro, a dopamina predomina. Essa é a fase do prazer, da libido aguçada e da busca por novidades.  Depois disso, vem a fase da estabilidade onde a oxitocina e a vasopressina estão envolvidas e trabalham na formação de um relacionamento sólido. As reações químicas que ocorrem no nosso cérebro nessa fase geram sentimentos de segurança, calma e equilíbrio.

É verdade que homens fazem sexo e mulheres fazem amor?

O nosso comportamento sexual é regido por duas estruturas cerebrais: o sistema límbico, responsável pelo impulso sexual e emocional e o lóbulo frontal, que coloca um freio em nossos desejos. Nas mulheres o lobo frontal é mais predominante, por isso elas são menos impulsivas sexualmente. Outro fator que justifica a impulsividade masculina no comportamento sexual são os níveis hormonais. Sabemos que os homens têm até 100 vezes mais testosterona que as mulheres. Esse é o hormônio que abastece a libido e faz com que eles sejam mais sexualmente impulsivos.

Podemos dizer, então, que a diferença do comportamento sexual entre homem e mulher, além de anatômico, realmente é fisiológico. Provavelmente foi baseado nisso que Allan e Barbara Peace entitularam seu livro mundialmente famoso “Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor”.

 Como o cérebro masculino e o feminino funcionam em um relacionamento a dois?

O cérebro feminino é praticamente igual ao masculino, mas aquela pequena diferença de 1% tem grande importância quando se trata de um relacionamento amoroso. Essa diferença funcional é a responsável pelos opostos entre o jeito de ser dos homens e mulheres. De acordo com a neuropsiquiatra Dra. Louann Brizendine em seus dois livros “O cérebro Masculino” e “O Cérebro Feminino”, homens e mulheres têm atitudes opostas ao se comunicarem e se relacionarem. Outro autor que também desperta o leitor para essa diferença é o Dr. John Gray no seu livro “Os homens são de Marte e as Mulheres são de Vênus”, onde ele chama atenção sobre como homens e mulheres não apenas se comunicam de forma diferente, mas também pensam, sentem, reagem e amam diferentemente.  

Mas onde está essa diferença?

Existe uma região no cérebro chamada amígdala. Essa é uma parte do nosso cérebro conhecida como centro das emoções e funciona como um gatilho que sempre é ativado por experiências afetivas. Quando passamos por uma situação que mobiliza nossos sentimentos, esse centro arquiva os detalhes de forma que eles possam ser resgatados futuramente – chamamos isso de memória tardia. A amigdala é mais desenvolvida no cérebro feminino e próxima a ela está o centro do olfato, o que explica o fato de as  mulheres se preocuparem em estar mais cheirosas e terem o sentido do olfato aguçado, chegando ao ponto de jamais esquecerem o perfume do primeiro namorado que foi sentido no primeiro encontro ocorrido há décadas. Fica um alerta então às almas femininas: não se preocupem em “marcar território” usando perfumes caros -  os homens usam outras habilidades para lembrar-se das suas parceiras, que serão tema do nosso próximo papo.

O cérebro humano é realmente fascinante, não acha?  :)

Flor dedicada ao texto: Rosa Amarela Alaranjada, simboliza Pensamentos Apaixonados

Dra. Elza Magalhães Silva

Médica neurologista...

COMENTÁRIOS PUBLICADO Adicionar comentário

Breno Serretti Neurociência e seus desbravadores
Parabéns pelo texto Dra, o cérebro é fascinante e vocês neuros parecem os desbravadores desse “mundo” tão complexo. Dúvidas: - Ao recordamos de alguns momentos de nossas vidas parece que revivemos o momento. Ao recordar momentos às substâncias endógenas são "ré-liberadas" como foi na época? - Seriam capazes os opióides endógenos liberados causar um estado de sensação de dependência? Comparei ao efeito colateral dos opiódes exógenos. E pensei nisso por conta da depressão ocasionada ao termino do relacionamento.
Editor: Equipe AmorMeu Neurociência e seus desbravadores
Obrigado por seu comentário.

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Elza Magalhaes RESPOSTA DO AUTOR:
Oi Breno, que bom que você gostou do texto. Respondendo sua dúvida podemos dizer o seguinte: Nosso sistema nervoso produz substancias que alimentam nossas emoções e sensações (boas ou ruins) e quando esse sistema é ativado por muito tempo, como por exemplo um relacionamento prazeroso e longo, muitas informações são armazenadas como um processo de memoria emocional. Quando ocorre um rompimento brusco desse relacionamento, o estimulo que até então era responsável pela alimentação desse circuito deixa de existir e consequentemente ocorre uma redução da produção dos neurotransmissores (dopamina, endorfinas, opioides etc.). Nessa fase de rotura, surgem sintomas físicos e emocionais como insonia, ansiedade, dores musculares, tristeza, irritabilidade etc... Esses são os menos sintomas de uma síndrome de abstinência que ocorre por uso cronico de opioides ou psicotrópicos. Podemos chamá-la de síndrome de abstinência de AMOR.

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