O Diabo mora nos detalhes
Relacionamentos não costumam começar já sendo relacionamentos. Tudo começa com pequenos gestos, discretos sorrisos, algumas palavras, primeiros encontros. No início do relacionamento, estamos atentos a tudo no outro: seu cheiro, seu toque, as primeiras sensações, a cor de seus olhos, os batimentos cardíacos... tudo causa fascinação. Pesamos cuidadosamente nossas ações e nossas palavras.
Com o passar do tempo, vamos nos habituando um ao outro, nos acostumando à presença constante. Conforme o relacionamento se torna estável, os detalhes vão ficando de lado. Misturada ao stress de um dia mais difícil, deixamos passar uma atitude mais agressiva. Demoramos a perceber que aquele olhar enviesado no encontro com os amigos se tratava de ciúme e não de cansaço. Pensamos que foi por distração que não houve comemoração quando contamos sobre o aumento de salário. E os dias seguem.
Um dia, numa discussão um pouco mais acalorada, um primeiro xingamento. Os pedidos desculpas e olhar de arrependimento fazem pensar que se trata de uma exceção. Mas o comportamento se repete, vez após outra. Atira-se objetos; o outro já não aceita ser contrariado. As palavras vão se tornando mais e mais duras.
Uma noite, depois de uma festa com amigos, o ciúme dá início a uma briga. Os xingamentos retornam e se misturam a palavras cheias de ódio e possessividade. Defender-se das acusações sem sentido parece só alimentar a discussão. Num momento de raiva, o impensável: a primeira agressão física.
Na memória, repete-se cada segundo daquela discussão, como se fosse possível encontrar assim a resposta para o que acaba de acontecer. Como as coisas chegaram a esse ponto? Quantos sonhos se desmancham, a ilusão de uma vida juntos, os filhos que ainda nem tiveram, a casa que ainda nem foi construída... Mas vêm os pedidos de desculpa, joelhos no chão, lágrimas, beijos e abraços. Um novo perdão. Uma nova vida. Até a próxima discussão.
-
Essa é a história de uma em cada cinco mulheres no Brasil. E a de muitos homens também, que não costumam ir à delegacia e, por isso, a estatística é bem menos expressiva.
Descobrir-se vivendo com uma pessoa violenta pode ser devastador. Futuros e atuais agressores não aparentam ser agressores, não agem como agressores, não falam como agressores. Mas, muitas vezes, o primeiro episódio de violência física é antecedido por violência verbal, ciúme exacerbado, excesso de álcool. Detalhes que deixamos passar. Ao primeiro sinal de violência, termine o relacionamento. Não aceite estar em um relacionamento com alguém que lhe imponha limites exagerados, como deixar de ver amigos, deixar de trabalhar contra sua vontade. E, se preciso, procure ajuda.
A forma mais eficiente de reverter uma relação violenta é jamais entrar em uma relação violenta. Observe os detalhes.
Com carinho,
Equipe AmorMeu
Flor dedicada ao texto: Alyssum, simboliza Valor.
Equipe AmorMeu
Muitos corações envolvidos, muitas cabeças pensando, muitas mãos escrevendo. E um só desejo; o de contribuir com informação para o público AmorMeu.