O que acontece no nosso cérebro durante o beijo?

O que acontece no nosso cérebro durante o beijo?

Dra. Elza Magalhães Silva Esclarecedores 11/12/2017 (0)

Tudo começa nos lábios, e não é à toa que representam a via inicial na neuroquímica do beijo.  Os lábios são capazes de perceber com muita precisão a temperatura corporal e o tônus muscular da outra pessoa. Além disso, durante o beijo, há um importante intercâmbio de saliva, e isso permite a troca de hormônios que irão participar da bioquímica do beijo. A testosterona, por exemplo, passa do homem para a mulher e funciona como uma espécie de afrodisíaco que ativa a receptividade sexual da mulher.

O beijo funciona como um termômetro consciente que mensura a probabilidade de uma relação de estabelecer ou não. A partir do beijo o cérebro recebe informações sensoriais e analisa se elas lhe agradam ou desagradam, se as rejeita ou aceita (David Bueno i Torrens). Então podemos dizer que não basta beijar tem que “rolar uma química” como resultado desse primeiro passo para que a vontade de continuar seja despertada. Isso é muito curioso, e vocês podem estar perguntando porque no primeiro beijo uma pessoa já pode descobrir se aquela é ou não a pessoa certa, e definitivamente o (a) aceita ou rejeita? Nosso cérebro é quem faz isso e de forma consciente através do que podemos chamar de neuroquímica.

Um dos fatores que interferem na decisão do cérebro de aceitar ou rejeitar alguém a partir do beijo é a nossa experiência prévia. Nossas memorias afetivas sejam por experiências sociais, amorosas, familiares, etc, tem papel fundamental nesse processo. Um bom exemplo para isso é o fato de que quando alguém é rejeitado por outra do sexo oposto ele(a) tem mais dificuldade de aproximar-se de outras pessoas, porque essa memória de rejeição está bloqueando a neuroquímica cerebral e impedindo que ela estabeleça uma nova relação. Outro exemplo sobre experiência prévia mostrada por alguns estudiosos é que quando se beija uma pessoa conhecida, as reações químicas são diferentes de quando o sujeito é desconhecido.

Vamos agora falar do cenário ideal: o casal se beija, a química rola, o cérebro é bombardeado de informações. E aí? O que vai acontecer nesses cérebros apaixonados? Quando o cérebro percebe o que está acontecendo, em décimos de segundos, ele começa a produzir uma série de neurotransmissores (substâncias químicas que fazem a comunicação entre neurônios), e ao mesmo tempo ocorre um feedback onde os protagonistas do beijo começam a perceber seus efeitos.

Existem pelo menos quatro neurotransmissores básicos liberados no cérebro durante o pelo beijo: a dopamina, que traz prazer e bem-estar, a serotonina responsável pela excitação e otimismo, mas que se for liberada em excesso pode trazer sensação de raiva e agressão, e nesse caso pode despertar um sentimento de rejeição.  A epinefrina, que aumenta a frequência cardíaca, o tônus muscular e aumenta a produção do suor, por isso sentimos calor e a aceleração do coração quando estamos beijando.  Por último, temos a oxitocina, que gera afeto e confiança e alimenta a relação com a vontade de continuar.

Além das substancias citadas acima, outras também são liberadas durante o ato do beijo e quando cai na corrente sanguínea tem papel importante no desfecho final. O óxido nítrico, que relaxa os vasos sanguíneos, provoca um aumento no fluxo sanguíneo para o pênis e para vagina, promovendo a ereção ou a lubrificação da mucosa vaginal, possibilitando um ato sexual mais confortável para o casal.  Outro neurotransmissor é a feniletilamina (hormônio da paixão), uma anfetamina potente e rápida que estimula o sentimento de prazer mais intenso e mais fugaz. Esse neurotransmissor é liberado mais frequentemente por jovens, inclusive pode ser liberado apenas por um olhar ou aperto de mão. Ele é responsável pela intensidade avassaladora das sensações dos adolescentes quando eles têm os primeiros encontros amorosos. No entanto, esse neurotransmissor também é produzido por cérebros adultos, quando a pessoa envolvida é capaz de despertar um sentimento forte o suficiente para que seu cérebro   o produza e gere uma sensação de um amor “adolescente”. A conclusão, é que beijar é muito bom. Aproxima os corações apaixonados e coloca os ‘’beijoqueiros’’ em estado constante de alegria. Portanto, vamos deixar para tratar de características menos excitantes do beijo em nosso próximo post. Até lá!. 

Flor dedicada ao texto: Sálvia Azul, simboliza alguem pensando em ti.

Dra. Elza Magalhães Silva

Médica neurologista...

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