Paternidade

Paternidade

Yago Luksevicius de Moraes Esclarecedores 23/06/2017 (0)

Se alguma vez você já buscou conhecimento sobre desenvolvimento infantil, provavelmente sabe da importância que é atribuída à mãe para que uma criança seja saudável. Entretanto, pouco ou nada você deve ter lido a respeito da importância do pai. A Psicologia do Desenvolvimento Infantil tem contribuído para afastar o homem do convívio familiar, afirmando que o homem é incapaz de cuidar dos próprios filhos/as e atribuindo à mulher toda a responsabilidade pela saúde da criança. Uma Psicologia que reduz o relacionamento pai-mãe-criança a uma "tríade de dois" e que é

"Alienante e culpabilizante para as mulheres, o mito do instinto materno se revela devastador para as crianças, em particular para os meninos. Esta teoria postula que a mãe é a única capaz de cuidar do recém-nascido e da criança porque fica determinada biologicamente para isso. O par mãe/criança formaria uma unidade ideal que ninguém pode nem deve perturbar. Legitima-se a exclusão do pai, com isto reforça-se a simbiose mãe/filho. (Silva, 2004, p. 43-44)."

O pai só começou a ser tratado como importante a partir de 1976, quando Michael E. Lamb publicou o livro The role of the father in child development (O papel do pai no desenvolvimento infantil). No entanto, estudos mais consistentes que explorassem a qualidade da relação pai-criança, só começaram a surgir mesmo na década de 90 e, no Brasil, a comunidade científica só começou a estudar com afinco este tema por volta do ano de 2004.

O que precisamos ter em mente ao falar da paternidade? Tornar-se pai acarreta mudanças na autoimagem, nas relações sociais e nos hábitos de saúde, conta com mudanças hormonais para auxiliar na paternagem, o que varia em função da personalidade paterna, personalidade da criança, sexo da criança, qualidade da relação conjugal, nível de escolaridade, trabalho, motivação, autoconfiança, suporte social e idade, tanto do pai quanto da criança.

Costumamos reclamar que os homens ainda não dividem os cuidados com as crianças em igualdade com as mulheres. Mas como seria possível dividir o tempo em duas metades perfeitamente iguais se, nos casos de divórcio, a guarda, quase sempre, é atribuída à mãe? Sem mencionar que a duração máxima da licença-paternidade é de 20 dias (nos casos de empresa cidadã) e a duração mínima da licença-maternidade é de 120 dias, ou seja, a licença-maternidade é de 6 a 36 vezes maior que a licença-paternidade.

Outra questão relevante: por que o pai precisa necessariamente assumir os cuidados da criança nas mesmas áreas e com a mesma eficácia da mulher? A divisão de tarefas perde a positividade quando se torna extremamente rígida, impedindo as pessoas de realizarem seus potenciais e de serem felizes.

Levemos em conta, no entanto, que a divisão de tarefas em si não é nem boa, nem má. Tomemos, por exemplo, o estudo de Goetz e Vieira (2013), que perguntou a crianças de 10 e 11 anos sobre como deveria ser um pai e uma mãe ideais, bem como eram seus pais e mães. No geral, mulheres se saíram melhores que os homens, não havendo grandes diferenças entre a mãe ideal e a mãe real, mas ainda aquém do desejado. Entretanto, as crianças disseram que um pai e/ou uma mãe ideal deveria brincar, em média, pouco mais de quatro vezes por semana com elas e as mães não chegam a brincar nem sequer duas vezes, enquanto os pais brincam, em média, de três a quatro vezes por semana. Esses resultados colaboram com os diversos estudos que apontam que homens estão mais presentes nas brincadeiras e tendem a construir o vínculo pai-bebê baseado no lúdico. 

Muitas pessoas desvalorizam essa atitude, achando que, ao agir desta forma, o pai estaria se reduzindo a um mero recreador, mas brincar é de vital importância para a saúde mental e desenvolvimento cognitivo da criança. Brincar é, fundamentalmente, o trabalho da criança. Qualquer bom professor ou terapeuta usará de brincadeiras com a criança para atingir um resultado ou aprendizado, então por que não deixar o pai fazer o mesmo? 

 

Obras citadas

GOETZ, E. R; VIEIRA, M. L. Pai real, pai ideal: o papel paterno no desenvolvimento infantil. 3ª ed. reimpr. Curitiba: Juruá, 2013.

LAMB, M. E. The role of the father in child development. New York: John Wiley & Sons, 1997.

SILVA, S. M. da. Exercícios da paternidade: estudo de dois casos clínicos. 2004. 162 p. Dissertação (pós-graduação em Psicologia da Saúde) – Faculdade de Saúde, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, SP. 2004

Flor dedicada ao texto: Centáurea, simboliza Delicadeza

 

 

Yago Luksevicius de Moraes

Psicólogo clínico, CRP 06/137241

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