Vale a pena recomeçar!
Nasci em uma família grande no interior do Rio Grande do Sul. Meus pais se casaram quando ela tinha 16 anos e ele 19. No histórico da experiência de vida de dois jovens ainda tão despreparados para formar uma família tem muita luta, resiliência e lealdade. Somos 4 irmãos com diferença de idade muito pequena e me lembro quando crianças, sentávamos todos perto do fogão a lenha e escutávamos histórias da vida dos dois. Meu pai tomando seu chimarrão enquanto minha mãe sempre fazia alguma atividade; consertava alguma roupa, escolhia feijão ou bordava. Consigo me lembrar com tanta saudade daqueles momentos que apesar da simplicidade de nossa vida, foram tão marcantes.
Meu pai, mesmo com o jeito austero, típico do homem gaúcho, conseguia demonstrar o quanto amava minha mãe.
Os anos passaram e cresci. Fui para a escola e certo dia conheci aquela que seria minha primeira namorada. Com 18 anos e com muitos sonhos, me vi apaixonado por aquela moça que veio a ser minha esposa 4 anos depois. Sempre que pensava nos passos que estava dando em minha vida, via refletir a vivência e o relacionamento de meus pais. Procurei colocar em prática todos os ensinamentos e exemplos que recebi ao longo de minha infância, adolescência e maturidade. Ser leal e fiel à minha esposa era um princípio básico de nosso casamento. Em 1988 minha mãe faleceu e vi a tristeza tomar conta dos dias do meu pai. Tamanha era sua solidão e dor que poucos anos depois ele desistiu de continuar vivendo com a saudade. Preferiu ir ao encontro dela.
Apesar do momento tão triste para mim e meus irmãos, mais uma vez pudemos ter prova do quanto aquele casal tinha sido feitos um para o outro. Seguimos em frente com nossas vidas e 5 anos depois, fui aquele que sofreu uma grande perda. Minha esposa faleceu. Me vi sozinho, e muitas vezes desejei não precisar levantar da cama no dia seguinte. Mas eu ainda era um homem jovem, com um filho adolescente que necessitava de minha orientação e suporte e em todo o tempo que busquei me fortalecer e guardar a minha dor, aquilo que havia aprendido com meus pais foram usados como meu apoio.
É curioso como até ali eu não notava as mulheres que estavam por perto de mim. Fui um homem com olhos para uma única mulher. Era estranho e até engraçado estar desimpedido de conhecer outra pessoa, e agora começar um novo relacionamento já sabendo exatamente o perfil da mulher que eu gostaria para se tornar minha companheira. Sim, isto percebi de imediato; não sou um homem de relacionamentos experimentais. Gosto da solidez, gosto de dividir com minha companheira todos os momentos, bons e ruins. Gosto quando ela se esforça para assistir comigo o jogo do meu time e eu me sacrifico compartilhando com ela a novela das 20:00hrs. Mas, observando a volúpia da maioria das mulheres modernas, sabia que teria que ser paciente para encontrar a pessoa certa. Ainda existem no nosso tempo, homens e mulheres que buscam relacionamento seguro e sólido. Valeria a pena ser paciente e encontrar a pessoa certa para um recomeço de minha vida afetiva. Tudo que aprendi com meus pais sobre família, amor, respeito, ainda eram os critérios para este recomeço. E esta mulher chegou. No princípio nem a achei bonita de verdade, mas quando os dias se passavam e compartilhávamos nossos pensamentos, experiencias e expectativas fui vendo toda sua beleza, todo o carisma e delicadeza daquela mulher. Encontrei o meu novo amor, encontrei a minha Cecília. Valeu a pena toda a espera. Vale a pena recomeçar.
Flor dedicada ao texto: Madressilva, simboliza laços de amor.
Samuel Lourenço
Gaúcho, marceneiro e artesão.