Virtual

Virtual

Ana Luiza Azevedo Relacionamento 17/04/2017 (0)

vir·tu·al

1. Existente como possibilidade, sem efeito real.

2. Que tem capacidade de existir.

3. Predeterminado a ser realizado.

4. Semelhante a outro.

(Dicionário Michaelis)

Conheci e comecei a namorar meu marido há 16 anos, num tempo em que a Internet já era uma ponte para o desconhecido, mas ainda não era nem de longe um sinônimo de velocidade. A internet era discada, o custo era consideravelmente alto e nós, que estávamos separados por mais de 500 quilômetros de distância, nos falávamos durante longas e insones madrugadas. Não, não existia 3G, os celulares ainda nada tinham de “smart” e ainda estávamos iniciando a fusão entre mundo real e virtual. Hoje já nem usamos mais tanto essa expressão, “virtual”. O virtual, hoje, é tão real, está tão estabelecido como fato corriqueiro em nossas vidas, que é alucinante pensar como o mundo e as relações mudaram em pouco mais de 15 anos.

Estávamos todos em transição: nós – adolescentes – e o mundo, por conta da tecnologia.

Tudo começou como uma amizade incógnita, sem nome, sem rosto. Apenas palavras. Aprendemos que uma amizade assim pode ser profundamente transformadora. Uma vez oculta a identidade, toda a personalidade se sente à vontade para emergir, sem rótulos, sem máscaras, sem preocupações estéticas. Descobrimos que tínhamos muito mais que “coisas” e interesses em comum, tínhamos valores parecidos. Nós conversávamos muito, sobre tudo, mas principalmente sobre o que realmente importava: quem nós éramos. Nos tornamos, antes de tudo, grandes amigos. Um elo para a vida toda.

Começamos a namorar ainda muito jovens, primeiros e únicos namorados um do outro, passamos 7 anos namorando à distância e já se vão quase 9 anos casados. Muitas foram as transformações que sofremos, da adolescência à vida adulta. Veio o vestibular, as faculdades, os primeiros empregos, o primeiro apartamento juntos, o primeiro carro, o bichinho de estimação... hoje estamos em busca do nosso primeiro filho. O que mudou em nós? Tudo, menos aqueles valores. Foram eles que nos uniram e construíram uma relação sólida e possível de ser vivida, que se alimentou das nossas transformações.

A evolução e a mudança de um são aprendizados para o outro. Crescemos juntos. As transformações nos fortalecem, não nos separam. Conhecemos, respeitamos e defendemos tanto nossos valores, que nem mesmo nossas diferenças (drásticas) de personalidade não foram capazes de fragilizar nossa relação. Se brigamos? Muito! E rimos muito de nós mesmos depois. Pedimos desculpas. A vida continua.

Os amigos que nos acompanham desde o início não entendem quando digo que sou grande incentivadora de amores vividos à distância. Foi realmente sofrido, sentíamos falta especialmente das coisas pequenas do dia-a-dia. Mas algo mágico acontece quando as coisas pequenas não estão presentes: as coisas grandes e importantes ocupam o espaço. E quanto às relações que começam pela internet? Penso que, muitas vezes, tantas são as máscaras que adotamos na vida chamada “real”, que estamos todos vivendo incógnitas, mesmo quando identificados por nome e sobrenome... Mais do que nomes e rostos, somos feitos de valores. São eles que dizem quem realmente somos.

Está em busca de um grande amor? Faça um grande amigo. Não importa onde ele esteja.

Flor dedicada ao texto: Alstromeria, simboliza Amizade, Felicidade.

Ana Luiza Azevedo

Escritora e fotógrafa amadora, apaixonada por plantas e animais. Canceriana, muito apegada à família e a seu grande amor. Juntos, esperam seu primeiro filho, de onde surge inspiração para contos, poesias e textos.

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